sexta-feira, 3 de julho de 2009

A mais bela aventura




Tic tac, tic tac... Incrível como um simples relógio pode ser irritante quando não se consegue dormir. O ponteiro já deu várias voltas, cada segundo parece se rastejar.
Eu estou deitada na minha cama, inquieta, pensativa, tentando me desligar de tudo aquilo para finalmente poder dormir.
Presto atenção nos ponteiros maiores, desprezando o pequeno e barulhento que tanto me irrita. Cinco e cinqüenta e cinco da manhã! Droga, números repetidos me perseguem!
Permaneço acordada por mais alguns minutos, quando repentinamente me sinto um tanto entorpecida. Meus olhos começam a pesar cada vez mais, finalmente se fecham e adormeço.
Então vejo uma luz. Forte e dourada, clareando um ambiente constituído por névoa e escuridão. Ela vai se distanciando, ficando cada vez mais intensa que fica quase insuportável manter meus olhos abertos. Como que por mágica, essa luz explode. Começa a cair uma espécie de chuva de luz bem fina com pingos de todas as cores imagináveis. Essas gotas coloridas vão se unindo, lentamente, pingo por pingo. Permaneço atenta a tudo aquilo, curiosa para decifrar o que está se formando nessa união interminável de cores.
Estou olhando, olhando... Parece uma chuva em câmera lenta. Está surgindo um lindo campo verde, repleto de árvores frutíferas, flores de todas as espécies, um lago mais adiante e uma cachoeira de águas límpidas. Bate uma brisa agradável com cheiro doce de flores. Nunca vi nada tão lindo em toda a minha vida.
Logo noto que há pequenos seres voando por toda parte, suas asinhas batem rapidamente e refletem a luz do dia. São lindas meninas em miniatura, com rostos angelicais. Seus olhos são amendoados, íris de um lilás encantador, pequenos desenhos contornam suas sobrancelhas. Seus cabelos são coloridos e esvoaçantes. Possuem sorriso sapeca de criança e seus vestidos são feitos com pétalas de flores. Essas criaturinhas parecem fadas ou algo parecido.
Começo então a andar por entre elas, elas dão risada e se divertem brincando por entre os meus cabelos criando a cada passagem, um novo e mais engraçado penteado.
Continuo a caminhar pelo campo, pés descalços na grama, percebo que ainda estou com meu pijama azul de ursinho.
Ando muito, minhas pernas começam a doer, o sol já está se pondo por entre umas montanhas mais à frente.
Então avisto no meio do campo, entre algumas árvores uma cadeira que parece estrategicamente colocada ali. Ela me parece muito confortável, bem convidativa, então resolvo parar e descansar. Assim que me acomodo, levo um susto e digo:
- Ai! Cadeira safada! Mordeu meu bumbum!
O riso das fadinhas forma um coro estridente.
De repente escuto uma gargalhada engraçada e uma voz que me diz:
- Cuidado menina desavisada! Nunca ouviu falar da cadeira mordedora de bundas?
- Ei! Quem disse isso?
Quando olho para o lado vejo uma enorme tartaruga verde confortavelmente acomodada numa almofada vermelha com franjas douradas.
Tento me recompor do susto e conter o riso por que não é todo dia vemos uma tartaruga falante sentada numa almofada.
Então eu digo:
- Ah sim! Cadeira mordedora de bundas! Claro que já ouvi falar, aliás, tenho várias delas em casa. Adoro quando elas me mordem!
A tartaruga faz uma cara de poucos amigos, parece não gostar da brincadeira. Resolvo pedir desculpas a ela, não gosto de ser grosseira, nem mesmo com tartarugas, ou seja lá o que for.
Então, ela me conta que estou em um lugar mágico, que nem todos têm o privilégio de visitar. Lá tudo pode acontecer, do mais simples ao mais inimaginável. Lá existem seres dos mais variados, você pode encontrar pessoas que nem ao menos conhece como pode encontrar amigos, familiares, amores e pessoas que não vê há muito tempo. Pode deixar suas vontades livres para se tornarem realidade e lá todos os seus desejos são possíveis.
Não imagino onde é que vim parar, mas concluo que esse é o lugar mais colorido, mais cheio de perfumes e sensações que eu jamais vi.
Interrompendo a nossa conversa, uma das fadas que habitam esse lugar me entrega um pequeno frasco, o qual cabe em uma de minhas mãos fechada.
O vidrinho possuí os contornos de um violão e pode-se ler em letras miúdas a seguinte frase: “Beba-me”. Dentro dele há um líquido azul borbulhante e um tanto viscoso.
Depois de pensar um pouco, abro o frasco, aproximo o gargalo da garrafinha do meu nariz, sinto um cheiro muito doce a ponto de ser irritante e me faz espirrar por algum tempo.
Resolvo beber o líquido, arriscar e ver o que acontece. Alguns me olham com cara de expectativa, outros com receio do que pode vir a me acontecer.
Tento virar tudo em um só gole, mas quanto mais eu bebo, mas líquido aparece no frasco, isso me dá desespero. Além do sabor, me disseram ser uma mistura de doce amargo com salgado azedo.
Assim que termino de beber, asas começam a sair de minhas costas, à medida que elas vão se abrindo meus pés começam a sair do chão.
Incrível a sensação de ser livre e pode voar, dou várias voltas por entre as nuvens, lá em cima, solitária, sentindo o vento bater sobre o meu corpo.
De repente, minhas asas evaporam e começo a cair.
Caio bruscamente sobre um tecido branco estampado e macio que me parece bem familiar.
Abro os olhos, estou novamente deitada na minha cama, tudo não passou de um belo sonho.

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